terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Uma história engraçada

Hoje tenho uma 

história muito engraçada para contar para vocês, a respeito de uma amiga minha.
Nos conhecemos quando nós duas ainda estávamos na oitava série (ginásio, para os mais velhos), mas só fomos ficar amigas mesmo no primeiro ano do colégio (segundo grau, para os mais velhos).
Para ser bem sincera, nem me lembro exatamente como começamos a conversar. Só lembro que minha sala era repleta de panelinhas, dos mais perfeitos estereótipos e eu era a garota que à cada troca de aula, também trocava de carteira para conversar. Eu falava com as patricinhas, com os nerds, com os meninos do fundão e as meninas porra louca. E também falava com aquelas pessoas solitárias, que andavam em grupo para serem solitárias juntas.
Ela era dessas últimas.
E, num belo dia, numa dessas minhas migrações, sentei ao lado da Júlia e rimos a aula inteira. No outro dia, sentei ao lado dela novamente. E nos seguintes. E ficamos inseparáveis.
Calma, gente. A parte engraçada já está chegando.
A sala inteira olhava para a Júlia de nariz torcido. Ela era debochada e desencanada. Sempre estava fazendo piada a respeito de tudo e era a que menos levava a sério as picuinhas de colegial, que existem em qualquer escola.
Ela nunca fez questão de se vestir com o uniforme adolescente da época (cada geração tem o seu uniforme e, o da minha, era jeans, moletom de surfista e botinha LuiLui), muito menos de curtir as mesmas músicas e bandas que a galera curtia. Na verdade ela nunca fez questão de nada.
Nunca conheci alguém tão diferente de mim e talvez por isso mesmo me apeguei tanto a ela.
Ficávamos juntas o tempo todo: durante a aula, depois dela, na hora do intervalo, durante a educação física. Várias vezes íamos dormir uma na casa da outra e tudo o mais o que grandes amigas sempre fazem.
E foi então que começaram, e tenho certeza que vocês irão morrer de rir disso, a achar que éramos namoradas.
Eu, que antes falava com todo mundo, comecei a notar que a galera se afastava de mim quando eu chegava. Durante o intervalo, curiosamente, eu via em todo canto pessoas olhando para nós duas enquanto cochichavam e riam. E ainda fica mais engraçado: isso foi apenas o começo.
Meus pais começaram a me fazer observações cautelosas, a respeito do jeito dela. Os colegas da escola perderam o pudor da convenção social e começaram a falar coisas abertamente, sem nem ao menos esperar que lhes déssemos as costas.
Eu sempre soube o que ela era, isso nunca foi segredo para mim. Ela também nunca escondeu. Mas – e agora vem a melhor parte – isso começou a se tornar um problema para mim.
Comecei a me preocupar com o que isso interferiria na minha vida. Não estava gostando de ser excluída por andar com alguém que incomodava os outros. Eu queria fazer parte da galera e que os outros rissem comigo e não de mim.
Então eu, do alto da minha fraqueza, chamei a Júlia de canto e disse que não queria mais andar com ela, porque poderíamos estar passando dos limites. Usei exatamente essas palavras: “Se todos falam de nós, talvez estejamos dando algum motivo.”
Cara… Hilário, não? Sério. As lágrimas correm pelo meu rosto, de tanto rir.
Sou incapaz de esquecer da tristeza no rosto dela, quando percebeu que a minha vontade de ser aceita pelos outros era maior do que nossa amizade.
O tempo passou e voltamos a nos falar, nunca tão unidas quanto antes. Havia um muro de remorso que eu construí entre nós duas.
Viramos adultas, cada uma batalhando pela própria vida e pelos nossos respectivos pares.
Até hoje, quando nos encontramos, dizemos “eu te amo” uma à outra. Nos olhos dela eu vejo o mesmo amor. E é amor verdadeiro, daqueles que duram além do tempo e da distância. Mas os meus olhos sempre estão turvos pelo arrependimento.
Eu sempre soube o que ela era, desde o começo. Ela nunca fez questão de esconder de mim. Ela era (e é) a amiga mais sincera e desinteressada que já tive. Foi ela que me ofereceu amizade sem esperar absolutamente nada em troca. E foi com ela que eu aprendi que as coisas mais maravilhosas da vida são perdidas quando nos importamos com o que os outros irão pensar.
Ainda estou chorando de tanto rir.

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